segunda-feira, 21 de junho de 2010

O preço da floresta



Empresas e ONGs unem forças para colocar em prática um plano audacioso de salvamento da Mata Atlântica: pagar 3 bilhões de reais para mantê-la em pé


Revista Exame – 16/06/2010

Durante muito tempo, a lógica que norteou as iniciativas de conservação e restauração de florestas no Brasil foi estritamente ambiental. Ou seja, boa parte das ONGs e entidades ligadas à causa defendia essencialmente duas maneiras de manter grandes extensões de mata nativa em pé. Uma era sair comprando terras para transformá-las em reservas. A outra era acreditar que os produtores rurais deveriam manter uma boa porção de suas propriedades intactas, independentemente do custo. Esse raciocínio começou a mudar. Em primeiro lugar, a compra de terras exige muito dinheiro.

Além disso, os ambientalistas perceberam que conquistar o produtor rural só com argumentos verdes não costuma dar resultados práticos. "A restauração precisa ser sinônimo de geração de renda", diz Carlos Alberto Mesquita, diretor executivo do Instituto BioAtlântica, ONG com sede no Rio de Janeiro que trabalha pela preservação da Mata Atlântica. É por acreditar nisso que, a partir deste mês, Mesquita e ambientalistas de outras ONGs, assim como especialistas e estudiosos do tema, estarão observando atentamente os movimentos de uma nova entidade, a Associação Corredor Ecológico do Vale do Paraíba.

Formada pela Fibria, hoje a maior empresa de celulose de eucalipto do mundo, pelo banco Santander, além de instituições como a ONG SOS Mata Atlântica e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, a associação tem uma meta ambiciosa: preservar e restaurar nos próximos dez anos 122 000 hectares de Mata Atlântica na porção paulista do Vale do Paraíba, entre as serras do Mar e da Mantiqueira, uma região muito urbanizada e conhecida por abrigar um volume significativo de empresas. A área é quase equivalente à da cidade de São Paulo. Trata-se da maior iniciativa de conservação hoje em curso no país. "A ideia é fazer isso sem comprar nenhum hectare de terra", diz José Luciano Penido, presidente do conselho de administração da Fibria e um dos idealizadores do projeto. Isso será possível, afirma ele, porque a associação vai encontrar maneiras de oferecer aos produtores rurais da região incentivos financeiros para que eles preservem ou restaurem pedaços de mata nativa em suas propriedades. No jargão ambientalista, o que Penido prega é que os fazendeiros sejam ressarcidos pelos "serviços ambientais" que a mata proporciona, como regulação do clima e combate à desertificação da terra e assoreamento de rios, entre outros benefícios.

A teoria do pagamento pelos serviços ambientais é muito defendida e propagandeada pelos ambientalistas. Colocála em prática, porém, não é algo fácil, e ainda são poucos os casos de sucesso no mundo. A associação quer encarar o desafio, e a Fibria será a primeira a colaborar. Para impulsionar o crescimento de sua operação no Vale do Paraíba, será preciso plantar em propriedades rurais de terceiros 28 000 hectares de florestas de eucalipto. Se quiser fazer negócio com a Fibria, o proprietário rural terá de se comprometer a plantar, para cada hectare de eucalipto, 1 hectare de mata nativa. Pela participação, haverá o pagamento de um valor adicional. "Essa será apenas uma das oportunidades de ganho às quais eles terão acesso para valorizar os recursos naturais que possuem em suas terras", afirma o geólogo Paulo Valladares, secretário executivo da associação. A entidade também já criou a figura do produtor de água. Nesse caso, a ideia é remunerar donos de propriedades rurais para que eles conservem os rios que cortam a região.

Para tornar a estratégia viável, será preciso envolver grande parte dos setores público e privado da região. O projeto prevê o plantio de mais de 200 milhões de árvores, um investimento estimado em 3 bilhões de reais. A expectativa, porém, é que prefeituras e empresas sejam pressionadas a colaborar. "É o imperativo econômico que fará com que a iniciativa ganhe escala", afirma Maria Luiza Pinto, diretora executiva de desenvolvimento sustentável do Santander. Não é preciso ser ambientalista para concordar com o argumento. Basta lembrar que as águas da parte paulista do rio Paraíba do Sul abastecem a indústria e a agricultura do estado de São Paulo e 90% da região metropolitana do Rio de Janeiro. Para que esse recurso continue disponível, com qualidade e constância, será preciso mesmo cuidar da mata.

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Durante muito tempo, a lógica que norteou as iniciativas de conservação e restauração de florestas no Brasil foi estritamente ambiental. Ou seja, boa parte das ONGs e entidades ligadas à causa defendia essencialmente duas maneiras de manter grandes extensões de mata nativa em pé. Uma era sair comprando terras para transformá-las em reservas. A outra era acreditar que os produtores rurais deveriam manter uma boa porção de suas propriedades intactas, independentemente do custo. Esse raciocínio começou a mudar. Em primeiro lugar, a compra de terras exige muito dinheiro.

Além disso, os ambientalistas perceberam que conquistar o produtor rural só com argumentos verdes não costuma dar resultados práticos. "A restauração precisa ser sinônimo de geração de renda", diz Carlos Alberto Mesquita, diretor executivo do Instituto BioAtlântica, ONG com sede no Rio de Janeiro que trabalha pela preservação da Mata Atlântica. É por acreditar nisso que, a partir deste mês, Mesquita e ambientalistas de outras ONGs, assim como especialistas e estudiosos do tema, estarão observando atentamente os movimentos de uma nova entidade, a Associação Corredor Ecológico do Vale do Paraíba.

Formada pela Fibria, hoje a maior empresa de celulose de eucalipto do mundo, pelo banco Santander, além de instituições como a ONG SOS Mata Atlântica e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, a associação tem uma meta ambiciosa: preservar e restaurar nos próximos dez anos 122 000 hectares de Mata Atlântica na porção paulista do Vale do Paraíba, entre as serras do Mar e da Mantiqueira, uma região muito urbanizada e conhecida por abrigar um volume significativo de empresas. A área é quase equivalente à da cidade de São Paulo. Trata-se da maior iniciativa de conservação hoje em curso no país. "A ideia é fazer isso sem comprar nenhum hectare de terra", diz José Luciano Penido, presidente do conselho de administração da Fibria e um dos idealizadores do projeto. Isso será possível, afirma ele, porque a associação vai encontrar maneiras de oferecer aos produtores rurais da região incentivos financeiros para que eles preservem ou restaurem pedaços de mata nativa em suas propriedades. No jargão ambientalista, o que Penido prega é que os fazendeiros sejam ressarcidos pelos "serviços ambientais" que a mata proporciona, como regulação do clima e combate à desertificação da terra e assoreamento de rios, entre outros benefícios.

A teoria do pagamento pelos serviços ambientais é muito defendida e propagandeada pelos ambientalistas. Colocála em prática, porém, não é algo fácil, e ainda são poucos os casos de sucesso no mundo. A associação quer encarar o desafio, e a Fibria será a primeira a colaborar. Para impulsionar o crescimento de sua operação no Vale do Paraíba, será preciso plantar em propriedades rurais de terceiros 28 000 hectares de florestas de eucalipto. Se quiser fazer negócio com a Fibria, o proprietário rural terá de se comprometer a plantar, para cada hectare de eucalipto, 1 hectare de mata nativa. Pela participação, haverá o pagamento de um valor adicional. "Essa será apenas uma das oportunidades de ganho às quais eles terão acesso para valorizar os recursos naturais que possuem em suas terras", afirma o geólogo Paulo Valladares, secretário executivo da associação. A entidade também já criou a figura do produtor de água. Nesse caso, a ideia é remunerar donos de propriedades rurais para que eles conservem os rios que cortam a região.

Para tornar a estratégia viável, será preciso envolver grande parte dos setores público e privado da região. O projeto prevê o plantio de mais de 200 milhões de árvores, um investimento estimado em 3 bilhões de reais. A expectativa, porém, é que prefeituras e empresas sejam pressionadas a colaborar. "É o imperativo econômico que fará com que a iniciativa ganhe escala", afirma Maria Luiza Pinto, diretora executiva de desenvolvimento sustentável do Santander. Não é preciso ser ambientalista para concordar com o argumento. Basta lembrar que as águas da parte paulista do rio Paraíba do Sul abastecem a indústria e a agricultura do estado de São Paulo e 90% da região metropolitana do Rio de Janeiro. Para que esse recurso continue disponível, com qualidade e constância, será preciso mesmo cuidar da mata.

www.planetasustentavel.abril.com.br
Estella Maris da Silveira Dutra

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